Num país muito distante
rolavam palavras de ouro
da boca do futuro rei.
O rei sem coroa incendiava o boné
com a luz das estrelas.
À porta das fábricas,
desenhava moinhos,
explicava o trigo,
reinventava o mundo.
Café com pão e fé, ele contava.
A esperança é que contava.
Cansado de outras lavras,
o povo acreditou.
A maioria acreditou,
e mudou o ofício do milagreiro,
o bravo arteiro, feiticeiro de sonhos
e palavras de ouro.
E foi assim
que os melhores alfaiates do reino
ganharam emprego,
para vestir o rei e sua glória,
e tecer a história com invisíveis fios.
Tempos depois
sentiram a falta de alguma coisa,
na palavra mastigada,
na saliva cuspida.
Era uma vez.