O mundo está cheio de encruzilhadas. Cada passageiro desse barco sem seguro e perfeitamente naufragável, navega ruas acidentadas, indecifráveis e cotidianamente turbulentas.
Não há paz para o mínimo de fruição estética de música e poesia. A convivência familiar/social é apenas um “faz de conta de que está tudo bem”, e isso facilita a perpetuação da etiqueta social e do manual de boas maneiras de entes quase civilizados.
Nem tudo está bem. O solo brasileiro parece feito de areia movediça.
Uma parte mais atuante da política e da justiça do País fede horrivelmente. Há perigo por toda parte, no claro do dia e no escuro da internet. A democracia de agora já é uma fábula risível, e não é culpa do atual Presidente do País. Qualquer cidadão pode ser preso se duvidar dos dogmas de fé de um ente supremo. Qualquer cidadão pode ter seu nome condenado em inquéritos de estilo kafkiano. Qualquer pessoa pode ser banida do ambiente social pela decisão de uma única pessoa, sem direito ao devido processo legal. E se alguém publicar alguma coisa na internet, cuidado com os algoritmos, eles estão de olho nas expressões utilizadas. Texto que se atrevem a dizer a verdade desaparecem no buraco negro da censura. Sei disso por experiência própria. E tem mais: dizer a verdade agora é crime.
Morador de Brasília, de longa data, hoje pela manhã fui à Esplanada dos Ministérios, assim como milhares de brasileiros que discordam do andamento da carruagem Brasil. Fui com a bandeira brasileira e a máscara negra da pandemia, em apoio ao Presidente. Voltei para casa com um sentimento estranho. Não sei por quanto tempo ainda terei a liberdade de sair à rua em defesa da liberdade, com a bandeira do Brasil. E não sei por quanto tempo este texto ficará aqui no meu “Cântaros de Sal”, pois o buraco negro da censura já descobriu que eu existo. Ensolarado dia na areia movediça. Brasília, 7 de setembro de 2021.