A ARTE DE ESCREVER ensinada em 20 lições
(Antoine Albalat)
Título do livro: A arte de escrever ensinada em 20 lições
Autor: Antoine Albalat
Título original: L’Art d’Écrire Enseigné en Vingt Leçons (1899 - França)
Volume consultado:
2ª edição – KÍRION, 2020 – CEDET – 224 páginas
Tradução: Cândido de Figueiredo
Apresentação: Rodrigo Gurgel
Publicado há mais de um século, na França, o livro continua atual, preenchendo lacunas na bibliografia referente à arte de escrever, e confirmando o Prefácio:
Tenho lido quase todos os manuais e todos os cursos de literatura. São bons guias, mas nenhum ensina, técnica e praticamente, a arte de escrever. Nenhum fez ainda as demonstrações do estilo. É uma lacuna, que eu procurei preencher.
As referidas demonstrações do estilo são realizadas em 20 lições, a partir de textos de grandes escritores. Victor Hugo, Jean-Jacques Rousseau, George Sand, Corneille, Bernardin de Saint-Pierre, Gustave Flaubert, Fénelon, Lamartine, Bossuet, La Fontaine e outros (o livro não apresenta os textos no idioma original, traz somente a tradução).
O objetivo do autor é instigar o leitor a refletir sobre as múltiplas possibilidades de escolha no ato de escrever. Em muitos casos são apresentadas duas colunas, uma com o texto original e outra com a nova redação dada pelo Albalat, para que o leitor compare e reflita. A esse respeito lê-se ainda no Prefácio:
O meu alvo é mostrar no que consiste a arte de escrever, decompor os processos de estilo; expor tecnicamente a arte da composição; ministrar os meios de aumentar e ampliar as aptidões do estudioso, isto é, duplicar-lhe e triplicar-lhe o talento; (...)
Para melhor conhecimento do livro, transcrevo algumas observações de Albalat:
"A primeira condição preparatória, para escrever, é conhecermo-nos, e, para isso, segundo diz Horácio, é preciso examinar, estudar, saber com que fardo poderão os nossos ombros."
“Qual é a vossa vocação? Quais são os vossos gostos? De que sois capazes? Quais são as vossas preferências? Tendes aptidão para o romance, para o diálogo, para a poesia, para a descrição?”
“Nem sempre temos bom êxito naquilo que mais nos agrada.”
“É preciso sobretudo ver bem, porque sucede que aquilo que mais prezamos em nós é exatamente os nossos defeitos. Deveremos reagir, (...). É raro que se tenha o discernimento e a coragem de sermos pura e simplesmente o que somos ”.
“A leitura é o grande segredo. Ensina tudo, desde a ortografia até às construções de frases”.
“O dom de escrever naturalmente não é uma aptidão inconsciente. O natural conquista-se e é quase sempre pelo trabalho que se obtém”.
“Tirai de uma ideia tudo que a não fortifica, tudo que é matiz idêntico, tudo que não tem relevo, tudo que pode ficar para trás. E o que restar, o que guardardes, tratai de exprimi-lo com o menor número possível de palavras”.
“Seja qual for o assunto de que se tratar, não é necessário escreverem-se sempre longos períodos. Não se deve adotar mais o estilo de frases longas do que o estilo de frases curtas. A mescla é que produz a variedade”.
“Quase todas as pessoas escrevem mal porque não se lhes demonstrou o mecanismo do estilo, a anatomia da escrita, nem como se encontra uma imagem e se constrói uma frase”.
CONCLUSÃO
Gostei do livro e recomendo a sua leitura.
Comprei esse livro pelas boas referências que tive dele. Mas confesso que o fiz com receio, pois meu preconceito esbarrou logo com o título, não gostei. Já tive decepções com livros que prometem maravilhas em “n” lições. Também duvidei de sua atualidade. Um livro publicado há mais de um século, na França, talvez tivesse pouco a dizer para o Brasil, agora, nesse tempo de rapidez na comunicação.
Enfim, convencido pelas referências, adquiri o livro e agora me envergonho dos preconceitos que tive. O autor cumpre sua promessa de “decompor os processos de estilo; expor tecnicamente a arte da composição”.
As lições trazem observações básicas para qualquer época. Abordam o essencial da escrita, não se prendem a modismos ou tendências passageiras. E as demonstrações de estilo são feitas de forma bem didática, com grande quantidade de exemplos.
Finalmente, transcrevo abaixo, para reflexão, três importantes parágrafos da Apresentação do livro, escrita pelo professor Rodrigo Gurgel:
O título do volume de 1905 mostra que, já no seu tempo, Albalat enfrentou discordâncias – mas não o silêncio, a quase censura que seus livros sofrem desde as últimas décadas do século XX. E por que Albalat foi condenado ao limbo dos manuais supostamente inúteis?
Ocorre que a maioria dos professores da área de letras, ao menos no Brasil, se tivesse de optar entre Machado de Assis e algum escritor contemporâneo de relativo sucesso, hábil malabarista de vocábulos, pronto a compor frases curtíssimas e aliterações engraçadas, escolheria o segundo.
Eleição perfeitamente compreensível se analisamos o que se publica entre nós. Para uma época na qual prevalece a sintaxe obscura, lacônica e monótona, os manuais de Albalat são disparates. (...)
O professor Rodrigo Gurgel continua expondo a ideia contida nos parágrafos citados e conclui, ao final, com uma sugestão, a qual endosso:
“(...) não tenham medo de seguir no sentido oposto ao do Zeitgeist contemporâneo. (...)”