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AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(...)
(Fernando Pessoa)
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Falando sério (inspirado em Fernando Pessoa)
Se mostro esta casa em desalinho,
falo de mim, acredite, não minto.
É para bom ator, falar sozinho,
Derramar das veias o vinho tinto.
Retornar à mesa e ao caminho,
e cada letra repastar faminto.
Reviver palavras do escaninho,
recriar o espanto que hoje sinto.
Relembrando até a própria morte,
tal como escrevo, hoje eu vivo;
e a dor, mesmo distante, não se cala.
E que ninguém chore a minha sorte,
pois o ator que sou tem bom motivo:
na minha voz outra pessoa fala.